sexta-feira, 9 de março de 2012

despedida

acontece geralmente nas madrugadas frias. o celular permanece desligado para a insônia não à consumir. o problema destas madrugadas é o mesmo que acontece com freqüência depois de uma noite de rock’n’roll e entorpecentes. a futilidade dele não a incomodava, sua falta de saúde não a entristecia. esta noite não foi o celular, foi a campainha que tirou o sono dela. ela sabia que era ele mais uma vez com suas frases decoradas e suas promessas baratas e fajutas.
‘’engoli o choro’’, ela pensa. trogloditas não choram apenas resmungam. ele pede e ela cede, pode ficar esta noite. está exausta demais pra discutir pela milésima vez o motivo de tudo, que ele sempre finge não compreender nem saber. ela diz que não gosta do seu jeito, e da sua vida rondada por ele. não gosta dos seus recados, telefonemas, nem das visitar noturnas. ela não quer carregar a vida dele nas costas, não mais. não a leve a mal, é que já passou o tempo em que vocês se telefonavam pra falar de amor, ciúmes e sacanagem.
‘’tu é orgulhosa demais’’. logo escuta pela manhã, servida por um café na cama. ‘’quem é ele? ou cadê ele?’’ se pergunta obtendo a resposta instantaneamente, é a pessoa que tenta se redimir por erros imperdoáveis. sente-se indiferente, apática ao ouvir estas palavras. e ele torna a repetir  ‘’tu é orgulhosa demais’’ exalando aquela lavanda barata, um cheiro que já foi inspiração um dia, e depois de tantos anos só traz embrulho ao estomago dela.
ela não o chamou aqui, não o convidou nem por pensamento, nem nos sonhos mais inquietantes, ou seja não fique. não chamou seu nome e ele continua indo, com esse mesmo ar, totalmente inconveniente. ele chega e tira toda sua paz, e a liberdade de uma noite tranqüila de sono. essa intimidade é totalmente desnecessária, e a casa fica confortável sem a companhia dele.
ela prefere o silencio dos seus moveis ao invés de sua voz. os olhares despretensiosos dos personagens de seus livros ao invés dos olhares mutiladores dele. odeia esse jeito de não esquecer o passado de fingir que está tudo bem e lhe pedir mais uma noite, a ultima.
olha... ela ta seguindo a vida dela, e não quer acumular problemas então saia de uma vez pela mesma porta que entrou. engoli todas as promessas e vomita em outra, qualquer outra longe daqui. está chovendo então aproveita pra lavar sua alma que tu sai daqui perdoado. mas some, porque esta noite ela não quer o calor da sua pele sobre a dela. o frio de uma cama de casal sozinha é reconfortante. o corpo dela pede distancia de ti. e mesmo sabendo que não deve satisfação de nada, muito menos explicação, ela insiste em deixar claro:
-  não é orgulho. acontece que peguei um conselho de um mendigo bêbado na rua que me disse, ‘’quem realmente ama, fará de tudo pra dar certo’’, enquanto era tempo baby, tu não fez. tu se perdeu no caminho e eu só me afundei tentando te salvar...tentando, só consegui ser infeliz ao seu lado. não é orgulho não – repetia- só não é tu que eu quero pra mim, e faz tempo.