segunda-feira, 30 de setembro de 2013

acontecia que a dias não acontecia nada. o quarto escuro do qual não saia havia sido lotado por garrafas de cerveja. algumas vazias. outras meio vazias. nunca meio cheias. nunca se vê o lado meio cheio do copo. só o meio cheio do cinzeiro. alias, as brasas caiam por toda a parte. pelo sofá quando segurava o livro e esquecia de bater as cinzas. na mesa do computador após mexer em fotografias. na cama antes de dormir. na cama antes de acordar. na varanda não. não saia para ver a luz do Sol. sentia-se constrangida  com a claridade no seu rosto.
ela era um parasita que retirava seus meios de sobrevivência de seu próprio enfraquecimento diário. do arrastar fúnebre dos dias. da desistência do viver.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

colecionava algumas dores que não tinha estrutura para carregar.
pesava os ombros.
atrofiava a coluna.
premia os passos.
caia.
rasgava o tecido do joelho.
mas não reclamava.
seguia firme da maneira que conseguia. 

sábado, 7 de setembro de 2013

me rendi a cama, aos lençóis, aos cabelos.
ao cheiro de lavanda barata.
ao velho jeito. aos mesmos erros.
a essa coisa que uns chamam de amor que não sai de mim.
amor é uma merda na realidade.
por isso bebo e rasuro. rasuro meus papeis.
rasuro minha casa.
rasuro minha vida...
risco. estrago.

me engano com a tese,
era pra escrever sobre o que afinal?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

toda vez que eles se reencontram. eles se apaixonam.
tua pele
dona de delírios
dona de gemidos cavados
dona de almas saciadas


dona de um mar de martírio.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Notivago

algum tempo atrás perdeu-se como um linho com a agulha. andarilho liberto sem rumo. o pouco rumo que tinha era derivado da memória. algo um tanto surrealista, pretensiosa demais. não tinha apreço por horas, calendários.
numa esquina qualquer de uma misera hora. andou se apaixonando pela noite/ou era pelas pernas daquela garota. mas de nada adianta uma fotografia  - de memória – se é só relato. o momento não pausa. em alguns pescoços da rua talvez. com sintéticos e a velha cerveja.


coisas que andou aprendendo com estranhos.

domingo, 1 de setembro de 2013

efêmero

não tinha a barba comprida. mas deixava por fazer. os cabelos castanhos sem corte. e com os olhos vidrados em uma antiga edição de MacBeth. suas vestes eram de um estilo fazendeiro norte americano.  desses que um ator de Hollywood gato interpreta um dono de milharal.
ele parecia interessante sentado com sua mochila, o livro e um derby vermelho.
ele é um rapaz instigante. um rapaz que prende sua atenção enquanto mastiga um plastiquinho de caneta.


a deixava ferver por dentro. 

outra realidade

seu corpo sentia-se fraco. não tratava bem de sua higiene. dormia em um colchão cheirando a testosterona e buceta. morava em um pequeno bordel dividido com mais três mulheres imundas. vadias. pois assim se chamavam.
- vadia guarda o troco do veio se não sobra pro cê. guarda pra casa. que as drogas desse começo de mês tá tudo miado.
na verdade ninguém cedo um galo cheio pra vadia. qualquer época do ano seria miado.
precisava de algo então que a acalmasse. tinha alguns complexos de existência como uma prostituta aos seus trinte e dois tem.
veio muito cedo pra curitiba. só se sabe que é do interior. que aos dezesseis já se prostituía por meros trocados. alguns diziam que ela gostava de se prostituir. alguns diziam que não teve escolha. teve até quem disse que foi por aposta de colégio...

o fato é que ela nunca contou a ninguém seu mistério e seu nome verdadeiro...