sexta-feira, 25 de maio de 2012

Anexo


Ao se apresentar no espelho, o retrato que via era de um cara de cabelos castanhos claros naturais, cortado curtinho e jogado pra direita, um rosto retangular como de um boneco – agregava pele clara com bochechas rosadas. Os olhos fundos, castanhos, profundos e sonhadores, brilhavam. Seus lábios eram simétricos e avermelhados. O corpo de um rapaz saudável de 175 centímetros. Achava-se semelhante a Stuart, ex baterista dos The Beatles. Love me do. Dizia sem dizer. Palavras soadas sem o som que assopra os lábios. Tantas palavras são ditas sem dizer, tantos momentos vividos, são perdidos ou encontrados no sem dizer.  O sem dizer acolhe bajulações, sujeitações, é uma bússola com o ponteiro quebrado. Porém nela mora o subconsciente do não dito, do não feito. E quando se diz palavras em frente ao espelho não é o consciente, é o inconsciente dentro da alma, gritando por vida. Ditas, alivio. Talvez ele quisesse ser amado.
esse espelho que refletia seu corpo, mostrava seus trajes, camisa xadrez azul, calça jeans, e All Star surrado. Não mostrava o nó sem chance de afrouxamento que estava enforcando seu coração, sua razão, seus sentimentos. Todos ali, sem piedade, sem organização.
Um pote que coubesse tudo isso seria a solução, pra não pensar, e cair em si.
Não via aquele cara estudioso que era enquanto não estava na frente de um espelho se conhecendo, se apresentando.
E noites e noites, pegou pensando em quem era ele, e porque não se sentia tão em si, tão normal. Indagar sozinho, é uma coisa que poucos fazem, ele fazia. Mesmo sem retorno, pois indagar pra si mesmo é o mesmo que não obter respostas, se não seria coerente saber a resposta delas, então porque perguntar? ele sabia que se aprende mais, buscando  uma resposta dentro de si. Foca e encontra. Esse é o segredo daquele cara nerd, aparentemente pateta, ter crescido na vida. 

O desinteressante prazer de ser si. Torna o real.