quarta-feira, 26 de junho de 2013

A floriculturista

Para ele, o melhor horário do dia é o do almoço. Não só porque esse é o tempo de relaxar do estresse de ser um publicitário corrido, mas porque no caminho do restaurante existe uma floricultura.  Na faixa de entrada uma cor rosa com janelas amarelas, o que seria pop arte se a arquitetura não fosse de um uma sutileza tão neoclássica.  Alguns vasos do lado de fora com Gérbera, Áster e Aveca. Em forma de placa, um quadro- negro encostado no canto, onde se escreve todos os dias recados amorosos. Shakespeare tinha seu nome cravado quase toda semana. Mas Carlos Drummond, Vinicius de Moraes, Chico Buarque costumavam marcar bastante presença também. Pela janela se via uma moça de uns vinte e poucos anos que trabalhava alegre. Estava sempre com um rabo de cavalo e o avental amarelo com terra. Usava galochas coloridas e estampas florais. Sua fisionomia era delicada, meiga e tinha a mania de contagiar os clientes quando saia sem querer seu sorriso frouxo.

Hoje a vez foi de Cazuza ‘’eu preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder sem engano’’.  E ele como faz a mais de dois meses passava com lentidão por ali. Sentou-se no banco do outro lado da rua pra fumar o cigarro que tanto esperava enfurnado em sua sala. Como de praxe observava ela disfarçadamente.Como ela estava linda, com a harmonia da vida sincronizando com seus passos leves. Com o rabo de cavalo por fazer sendo lançado em direção ao vento. Com os gestos uniformes, charmosos como se ela fosse uma princesa recém-saída de seu castelo. Com o olhar distraído, ingênuo. Ela era realmente apaixonante.


Hoje mais que dia de Cazuza no quadro, era dia de atravessar a rua.