Para ele, o
melhor horário do dia é o do almoço. Não só porque esse é o tempo de relaxar do
estresse de ser um publicitário corrido, mas porque no caminho do restaurante
existe uma floricultura. Na faixa de
entrada uma cor rosa com janelas amarelas, o que seria pop arte se a
arquitetura não fosse de um uma sutileza tão neoclássica. Alguns vasos do lado de fora com Gérbera, Áster
e Aveca. Em forma de placa, um quadro- negro encostado no canto, onde se
escreve todos os dias recados amorosos. Shakespeare tinha seu nome cravado
quase toda semana. Mas Carlos Drummond, Vinicius de Moraes, Chico Buarque
costumavam marcar bastante presença também. Pela janela se via uma moça de uns
vinte e poucos anos que trabalhava alegre. Estava sempre com um rabo de cavalo
e o avental amarelo com terra. Usava galochas coloridas e estampas florais. Sua
fisionomia era delicada, meiga e tinha a mania de contagiar os clientes quando
saia sem querer seu sorriso frouxo.
Hoje a vez
foi de Cazuza ‘’eu preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder sem engano’’. E ele como faz a mais de dois meses passava com
lentidão por ali. Sentou-se no banco do outro lado da rua pra fumar o cigarro
que tanto esperava enfurnado em sua sala. Como de praxe observava ela
disfarçadamente.Como ela estava linda, com a harmonia da vida sincronizando com seus passos
leves. Com o rabo de cavalo por fazer sendo lançado em direção ao vento. Com os
gestos uniformes, charmosos como se ela fosse uma princesa recém-saída de seu
castelo. Com o olhar distraído, ingênuo. Ela era realmente apaixonante.